Dor na relação sexual é normal?

Você sente dor durante ou após a relação sexual seja com um parceiro ou mesmo sozinha em atividades como masturbação? Talvez tenha alguns aspectos do corpo humano que você precisa conhecer para iniciar sua jornada de autoconhecimento em direção ao prazer sem dor!

10/27/20244 min read

Não! Dor na relação sexual não é normal!

A dor relacionada ao sexo inclui qualquer dor, seja perineal ou não, associada à atividade sexual durante ou imediatamente após o coito. Falando em termos técnicos, nomeamos essa dor na prática clínica de dispareunia, o que tem sido uma definição consensual nos estudos sobre o assunto. Pensou em dor genital associada à relação sexual, logo, definimos como dispareunia, mas dentro deste termo ainda nos aprofundaremos sobre algumas subclassificações. E, embora o público alvo seja maior em mulheres, homens também sofrem desta condição.

Mas quem disse issso?

R.Basson e colaboradoras definiu em 2003 após inúmeras pesquisas dor genital persistente ou recorrente associada à relação sexual como dispareunia, e nas mulheres, esta pode ser profunda ou superficial. Para darmos início a uma investigação pessoal individual é preciso seguir alguns passos, o que ajudará muito a descartas possibilidades de disfunções ou a guiar a fisioterapeuta pélvica ou ginecologista que cuidará do seu caso clínico.

Eu falo disso como?

Observe primeiro o local da dor. É importante saber com clareza onde que dói. Frases do tipo: “tudo dói” “em todos os lugares dói” não sinalizam com precisão as partes específicas do corpo as quais você realmente sente algo. Utilizar as pontas dos dedos para localizar onde você acredita ser o mais próximo da dor já ajuda a sair de um campo muito amplo para um lugar do mapa muito mais específico. Concentre-se mais um pouco e tente identificar se esta dor é superficial, vulvar, pontual ou espalhada, pélvica (na bacia), mais pro meio do umbigo ou lateralizada.

Após localizar no mapa do seu corpo esta dor, pense agora o a que dispara? É o início do contato com alguém ou objeto? É um movimento em específico ou qualquer movimento? Uma posição que você adota e ela começa a apontar? Identificado a razão que provoca a dor, tente descrever qual a intensidade, se ela inibe que você tenha orgasmo ou não inibe, relembre quando que você começa a senti-la: é no início? Durante ou apenas no final do ato sexual? Você sente que seu psicológico interfere na intensidade da percepção de todo o ato? Toda essa análise é particular, responde pra você mesma e compartilha exclusivamente com o profissional que irá pegar o seu caso clínico.

O que pode causar a dispareunia?

A dispareunia profunda é uma dor pélvica ou vaginal profunda associada à relação sexual e desencadeada pela penetração vaginal profunda. Na verdade, é uma dor abdominal e pélvica que não afeta a vulva ou o canal vaginal. Ela pode estar relacionada com diversas complicações que devem ser investigadas imediatamente para descartar possibilidade: infecções genitais superiores (salpingite, cervicite, endometrite, anexite), hipermobilidade uterina pós-parto devido à ruptura da superfície posterior do ligamento largo ( síndrome de Masters e Allen), mioma uterino, tumor ovariano, uretrite e cistite bacteriana, patologias digestivas inflamatórias e síndrome do intestino irritável, hemorróidas, síndrome da bexiga dolorosa, endometriose, aderências pélvicas, inflamatórias endometrióticas ou pós-cirúrgicas, periovarianas ou no fundo de saco vaginal, síndrome de congestão pélvica e fibromialgia. Em breve explicarei a fundo sobre cada uma destas patologias, mas no momento foge do escopo do texto.

Dispareunia Superficial

Já a dispareunia superficial é uma dor mais externa recorrente na vulva ou vulvovaginal associada à relação sexual e desencadeada pela introdução do pênis ou estímulo sexual no introito vaginal. A dispareunia superficial pode fazer parte da vestibulodinia (vulvodinia) induzida. Ela pode estar relacionada com vulvovaginites infecciosas, micóticas ou parasitárias (causa da maioria das dispareunias), condições dermatológicas vulvares, como líquen escleroso vulvar, líquen plano, doença de Bowen e papulose bowenóide, uso de medicamentos hipotensores ou psicotrópicos que induzem secura vaginal através de hiperprolactinemia; doenças gerais como diabetes, neuropatias periféricas e estados depressivos podem ser uma fonte de dispareunia superficial, lesão do nervo ilioinguinal (muitas vezes associada a trauma operatório ou fibrose pós-cirúrgica), causas psicológicas (síndromes depressivas, conflitos conjugais, estados neuróticos, traumas sexuais).

Todas as causas de deficiência de estrogênio levam a secura e atrofia vulvovaginal, especialmente a atrofia fisiológica pós-menopausa, o que também pode resultar em algum tipo de dispareunia. Reparo de rupturas obstétricas do períneo e episiotomias podem ter complicações por cicatrizes escleróticas e suas aderências também causarem certo incômodo seja por estenose da abertura vaginal ou outra causa.

Detalhe:

Pode parecer complexo e de fato é, as causas que levam a origem da dor pélvica são muitas, mas não quer dizer que uma única paciente possua todas elas! Talvez possa possuir mais de uma, talvez possa não ter o que achava ser uma dor relacionada ao sexo. O que este artigo tem como objetivo é te guiar da melhor forma possível para orientação do profissional adequado de tratamento se caso tenha se identificado com algum sintoma doloroso e mapeado sem problemas esta dor no seu corpo. Além de identificar sintomas, entender como se comunicar de forma assertiva com seu profissional de saúde, fazendo-se clara sobre suas singularidades sem negligenciar nenhum detalhe! Lembre-se: a meta é ser feliz! Até breve.

Referência:

L. Sibert, A. Safsaf, J. Rigaud, D. Delavierre, J.-J. Labat, Approche symptomatique des douleurs sexuelles chroniques, Progrès en Urologie.