Incontinência urinária de esforço: causas e tratamento

Incontinência urinária de esforço: conheça causas, sintomas e tratamentos eficazes com fisioterapia pélvica baseada em evidências da IUGA.

Fisioterapeuta Pélvica Joyce Andrade Oliveira

9/29/20256 min read

brown wooden doll on white ceramic toilet bowl
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Você já ouviu falar de “vazamento quando espirra, ri ou levanta algo pesado”? Isso pode ser um dos sinais da incontinência urinária de esforço — um problema mais comum do que se imagina, mas que muitas pessoas acham que precisam conviver. Aqui vamos entender melhor por que isso acontece, quem corre risco e como tratar de forma eficaz (sem neuras!).

O que é Incontinência Urinária de Esforço?

A incontinência urinária de esforço (IUE) é o vazamento involuntário de urina que ocorre quando há pressão extra sobre a bexiga, como ao tossir, espirrar, rir, correr ou levantar peso. Ou seja: algum “esforço” físico leva a uma sobrepressão no abdome, e a bexiga acaba cedendo.

Ela difere da incontinência de urgência (quando um “vontade súbita e forte de urinar” precede o vazamento) — embora existam casos mistos (quando há componentes de urgência e esforço) e isso exige abordagem diferenciada. A IUGA, em seus materiais e recomendações, costuma destacar que tanto a avaliação criteriosa quanto o tratamento devem considerar esses diferentes componentes. PMC+2iuga.org+2

Quais são as causas?

A incontinência por esforço não surge por acaso — há vários fatores de risco e mecanismos envolvidos:

  1. Fraqueza do assoalho pélvico
    Essa é uma das principais causas. Os músculos do assoalho pélvico sustentam a uretra, a bexiga e as estruturas circundantes. Se esses músculos estão fracos ou mal coordenados, não conseguem resistir à pressão interna extra.

  2. Alterações anatômicas e suporte insuficiente
    Lesões no suporte anatômico (como ligamentos e fáscias que sustentam a bexiga e uretra) diminuem a estabilidade do sistema urinário quando há aumento de pressão abdominal.

  3. Gravidez e parto
    O peso da gestação e o trauma do parto são fatores de risco bem conhecidos. Durante a gestação, o peso do útero sobre a bexiga e alterações hormonais já exercem pressão extra. No parto, especialmente quando há episiotomia, fórceps, parto prolongado ou lacerações, pode haver dano direto aos músculos e nervos do assoalho pélvico.

  4. Envelhecimento e menopausa
    Com o passar dos anos, há perda da força muscular e alterações hormonais (queda do estrogênio) que impactam a tonicidade da uretra e dos tecidos de suporte.

  5. Obesidade
    Quanto maior o peso corporal, maior a pressão sobre os órgãos abdominais e pélvicos. Isso “agrava” aquela relação de pressão vs resistência.

  6. Cirurgias urológicas ou ginecológicas anteriores
    Procedimentos que mexem com a bexiga, uretra ou região pélvica podem alterar a anatomia ou causar dano neural local.

  7. Atividades de alto impacto e esforço repetitivo
    Atividades físicas intensas ou que envolvem saltos, corridas, saltos frequentes ou levantamento de cargas pesadas podem “sobrecarregar” o assoalho pélvico, sobretudo em mulheres com musculatura já fragilizada.

Quem pode sofrer com isso?

A IUE é mais comum entre mulheres, mas também pode afetar homens — especialmente após cirurgias urológicas, como prostatectomia. Fatores de risco incluem:

  • Múltiplas gestações ou partos instrumentados

  • Envelhecimento

  • Menopausa

  • Obesidade

  • Tabagismo (por tosse crônica)

  • Prática esportiva de alto impacto

  • Histórico familiar

A IUGA reconhece que a prevalência real pode ser subestimada, porque muitas pessoas se envergonham de relatar os sintomas, e assim adiam buscar ajuda.

É mais do que só “incomodar”

Além do desconforto físico e da necessidade de usar absorventes, a incontinência urinária de esforço pode gerar:

  • Restrição de atividades (evitar exercícios, sair de casa, viajar)

  • Impacto psicológico e social (vergonha, constrangimento, ansiedade)

  • Custo financeiro (uso frequente de absorventes, roupas especiais, produtos auxiliares)

  • Comprometimento da qualidade de vida

Logo, tratar não é apenas consertar um “defeito”: é devolver liberdade, autoconfiança e bem-estar.

Diagnóstico e avaliação — antes da receita

Antes de qualquer tratamento, é essencial uma boa avaliação, que deve incluir:

  • Histórico clínico detalhado (quando começou, frequência, situações de vazamento, intensidade)

  • Exame físico e avaliação do assoalho pélvico (força, coordenação e capacidade de relaxamento)

  • Diário miccional (registro de ingestão de líquidos, frequência de micção e episódios de vazamento)

  • Teste de esforço (o paciente tosse ou “faz força” com bexiga cheia, para verificar vazamento)

  • Questionários padronizados (para medir impacto e gravidade)

  • Exames complementares, como ultrassonografia, avaliação urodinâmica, dependendo do caso

É importante diferenciar a IUE pura de casos mistos ou outras formas de incontinência, pois o tratamento pode variar — algo que a IUGA enfatiza em seus documentos e opiniões de comitê. PMC+1

Tratamento: o que dá pra fazer (sem “milagres”, mas com eficácia)

O bom é que a IUE tem tratamento e, na maioria dos casos, responde muito bem a abordagens conservadoras antes de opções mais invasivas. A IUGA, em conjunto com a ICS, já emitiu relatórios e orientações sobre manejo conservador das disfunções do assoalho pélvico. Aqui vão as principais estratégias:

🏋️ Treinamento dos músculos do assoalho pélvico

É considerado o tratamento de primeira linha para incontinência urinária de esforço. Envolve exercícios que fortalecem, coordenam e ensinam o relaxamento da musculatura pélvica. A IUGA apoia esse tipo de intervenção com respaldo científico. Dicas importantes:

  • Frequentemente, as sessões começam com instruções manuais e contato com o paciente para garantir que está ativando os músculos corretamente.

  • Os exercícios evoluem gradualmente, com diferentes posições (deitada, sentada, em pé) e variações de esforço.

  • A adesão é essencial: fazer direitinho, com regularidade.

  • Há protocolos padronizados, como o OPAL (conforme encontrado na literatura da IUGA).

🧰 Técnicas complementares

Para potencializar os resultados, podem ser usadas:

  • Biofeedback – aparelhos que mostram visualmente a ativação muscular, ajudando o paciente a “ver” e melhorar a contração.

  • Eletroterapia – estimulação elétrica para reforçar os músculos em casos mais frágeis ou nas fases iniciais do tratamento.

  • Training funcional – combinar os exercícios do assoalho pélvico com movimentos do dia a dia (como agachamentos leves) para que o fortalecimento seja prático e funcional.

  • Dispositivos intravaginais (como pessários ou cones) – podem ser usados por algumas mulheres para oferecer suporte mecânico temporário, especialmente durante exercício físico ou situações que desencadeiam vazamento leve.

  • Mudanças de estilo de vida – controlar peso, parar de fumar (se aplicável), evitar constipação crônica, fazer exercícios com impacto moderado, hidratar-se adequadamente.

🏥 Tratamentos mais avançados / procedimentos invasivos

Quando os tratamentos conservadores não são suficientes ou nos casos de IUE grave, pode-se considerar:

  • Injeções de substâncias volumizadoras (uretrais)

  • Procedimentos cirúrgicos, como sling uretral, colposuspensão ou telas (tape)

  • Abordagens combinadas (conservadora + cirúrgica)

É importante que a decisão seja feita com base em avaliação individual, riscos e benefícios — pois cada caso é único.

O que esperar com o tratamento?

  • Em diferentes estudos e revisões, mulheres que realizaram corretamente o treinamento dos músculos do assoalho pélvico têm taxas de melhora ou cura significativamente maiores do que em grupos sem tratamento (por exemplo, 67% vs 29%). iuga.org

  • Os resultados costumam aparecer em semanas a meses, dependendo da gravidade e da adesão

  • Mesmo após o que chamamos “cura”, manter os exercícios preventivamente é importante para evitar recaídas

Dicas para quem está começando

  • Busque um profissional especializado (fisioterapeuta pélvico, fisioterapeuta com formação em saúde da mulher)

  • Peça para acompanhar com periodicidade, para ajustes no protocolo

  • Anote seus progressos: quando o vazamento diminuiu, em quais atividades, quantas vezes por semana você fez exercícios

  • Tenha paciência e disciplina — o fortalecimento muscular leva tempo

  • Se o vazamento for intenso, persistente ou acompanhado de outros sintomas (dor, urgência grave, sangue), busque avaliação médica especializada

Resumindo...

A IUE pode causar desconforto e até um certo constrangimento, mas ela não precisa definir sua rotina. Muitas mulheres já conseguiram retomar atividades — correr, pular, rir sem medo — justamente por meio da fisioterapia pélvica bem guiada.

O poder está na combinação de ciência + prática + constância. Buscar informação confiável, como nas diretrizes da IUGA e ICS, faz diferença (afinal, opiniões são muitas, mas recomendações com base em evidências são ouro).

Referências
  1. Dumoulin C, Alewijnse D, Bo K, Hagen S, Stark D, Van Kampen M, et al. Conservative management of female pelvic floor dysfunction: An International Urogynecological Association (IUGA)/International Continence Society (ICS) joint report. Neurourol Urodyn. 2017;36(2):221–44. doi:10.1002/nau.23107

  2. International Urogynecological Association (IUGA). Stress Urinary Incontinence. YourPelvicFloor.org [Internet]. 2023. Disponível em: https://www.yourpelvicfloor.org/conditions/stress-urinary-incontinence/

  3. International Urogynecological Association (IUGA). Patient Information Leaflet: Stress Urinary Incontinence [Internet]. 2023. Disponível em: https://www.yourpelvicfloor.org/media/stress-urinary-incontinence-RV2-1.pdf

  4. IUGA. Did You Know? Patient resources for pelvic floor dysfunction [Internet]. 2024. Disponível em: https://www.iuga.org/resources/for-medical-students/did-you-know