TENS no trabalho de parto: uma alternativa não farmacológica

Descubra como a TENS (Neuroestimulação Elétrica Transcutânea) pode ser uma alternativa eficaz e não farmacológica para o alívio da dor no trabalho de parto. Saiba como funciona, benefícios e evidências científicas.

Fisioterapeuta Pélvica Joyce Andrade Oliveira

9/29/20259 min read

Todos nós tentamos fugir da dor — e isso não seria diferente para uma mulher em trabalho de parto. De acordo com a Associação Internacional para o Estudo da Dor (IASP), a dor é uma experiência sensorial, subjetiva e emocional desagradável associada a danos teciduais reais ou potenciais. Assim como outros tipos de dor, a dor do parto envolve quatro processos principais: transdução, transmissão, representação central e modulação.

Embora essa dor resulte de uma série de eventos neuroquímicos e físicos que desempenham papel essencial para que a mãe atravesse o puerpério com saúde e capacidade de nutrir seu bebê, ela ainda é percebida como intensa e desafiadora. A dor do parto é algo natural e necessário, mas muitas mulheres buscam maneiras de aliviá-la de forma mais natural e menos invasiva. Uma das estratégias que têm ganhado espaço na prática clínica é o uso da Neuroestimulação Elétrica Transcutânea (TENS). Mas o que exatamente é a TENS — e como ela pode ajudar no trabalho de parto? Vamos entender tudo isso agora!

O que é a TENS?

A TENS (Estimulação Elétrica Nervosa Transcutânea) foi introduzida na obstetrícia na década de 1970 e, desde então, vem sendo estudada como alternativa complementar no manejo da dor do parto. Seu mecanismo de ação baseia-se na teoria do controle de comporta (Gate Control Theory), proposta por Melzack e Wall em 1965, segundo a qual a estimulação elétrica ativa fibras nervosas de condução rápida (A-β), inibindo a passagem dos sinais dolorosos nas fibras mais lentas (A-δ e C). Além disso, a TENS pode estimular a liberação de endorfinas, os analgésicos naturais do corpo.

É um método simples, seguro e não invasivo, amplamente utilizado para ajudar a aliviar a dor em diferentes contextos clínicos, inclusive no trabalho de parto. Pode ser imaginada como um pequeno “massageador elétrico” portátil, que utiliza impulsos elétricos suaves para “enganar” o cérebro e reduzir a percepção dolorosa.

O aparelho de TENS é compacto — geralmente do tamanho de um celular ou controle remoto — e funciona com bateria. Ele se conecta a pequenos adesivos condutores chamados eletrodos, que são aplicados sobre a pele, próximos à região onde a dor é percebida. Quando o dispositivo é ligado, envia impulsos elétricos de baixa intensidade através desses eletrodos, produzindo uma sensação de formigamento ou vibração leve, totalmente tolerável.

O alívio da dor ocorre por dois principais mecanismos. O primeiro é conhecido como “teoria do portão” (Gate Control Theory), que explica que os impulsos elétricos gerados pela TENS chegam ao cérebro mais rapidamente do que os sinais de dor. Isso cria uma espécie de “portão fechado” nas vias nervosas, bloqueando ou reduzindo a transmissão da mensagem dolorosa. O segundo mecanismo envolve a liberação de endorfinas, substâncias naturais produzidas pelo corpo que atuam como analgésicos, promovendo bem-estar e relaxamento.

No contexto do parto, a TENS tem se mostrado uma aliada importante. Os eletrodos são geralmente posicionados na região lombar e sacral — áreas onde a dor das contrações é mais intensa — e a mulher pode ajustar a intensidade dos estímulos conforme suas contrações aumentam, o que lhe confere uma sensação maior de autonomia e controle sobre o processo.

Entre as principais vantagens da TENS estão o fato de ser não invasiva, pois não utiliza agulhas nem medicamentos; segura, sem efeitos colaterais conhecidos para a mãe ou o bebê; e auto-controlável, permitindo que a própria mulher regule o momento e a intensidade do uso conforme sua necessidade. Essas características fazem da TENS uma opção cada vez mais considerada por gestantes e profissionais de saúde que buscam estratégias naturais e seguras de alívio da dor durante o trabalho de parto.

Quando é indicada a TENS no trabalho de parto?

A TENS pode ser utilizada em diferentes momentos do trabalho de parto, desde o início das contrações até as fases mais avançadas, de acordo com a intensidade da dor e as preferências da gestante. No entanto, estudos mostram que ela tende a ser mais eficaz nas fases iniciais, quando a dor ainda é predominantemente visceral — isto é, proveniente das contrações uterinas e da dilatação cervical. Nessa fase, os estímulos dolorosos são conduzidos pelas raízes nervosas de T10 a L1, e a aplicação dos eletrodos na região lombossacra ajuda a modular esses sinais, oferecendo alívio de forma natural e segura.

Com o avanço do trabalho de parto, especialmente durante o período expulsivo, a dor passa a ter um componente somático, resultante do estiramento e da distensão do assoalho pélvico, do colo do útero, da vagina e do períneo. Essa dor é transmitida pelos nervos pudendos, através dos ramos de S2 a S4, e é geralmente mais aguda e localizada. Mesmo nessa fase, a TENS pode continuar sendo utilizada como estratégia de conforto, embora sua eficácia seja mais limitada quando comparada ao início do processo.

A literatura reconhece que a dor do parto é uma das experiências mais intensas que uma mulher pode vivenciar, e que diversos fatores — como cultura, experiências prévias e suporte emocional — influenciam sua percepção. Além do desconforto subjetivo, a dor intensa pode gerar respostas fisiológicas adversas, como aumento do consumo de oxigênio, hiperventilação, alcalose respiratória e liberação excessiva de catecolaminas, que podem reduzir o fluxo sanguíneo uterino e prejudicar a contração muscular. Dessa forma, o alívio da dor é fundamental não apenas para o conforto materno, mas também para o equilíbrio fisiológico da mãe e do feto.

Embora a analgesia neuroaxial (como a peridural) seja o método farmacológico mais eficaz para tratar a dor do parto, ela pode causar efeitos indesejados, como hipotensão materna, depressão respiratória neonatal e interferência nos reflexos de sucção do recém-nascido. Em contraste, métodos não farmacológicos, como a TENS, têm se mostrado seguros, acessíveis e bem aceitos, proporcionando redução da dor e maior satisfação materna, além de retardar ou reduzir a necessidade de analgesia medicamentosa.

Embora revisões sistemáticas ainda apresentem resultados inconsistentes e apontem um efeito global modesto na redução da dor, estudos recentes, como o ensaio clínico randomizado de Njogu et al. (2021), demonstram que o uso da TENS durante o trabalho de parto pode reduzir a intensidade da dor e encurtar a fase ativa, sem causar efeitos adversos para a mãe ou o bebê.

Assim, a TENS é indicada principalmente nas fases iniciais do trabalho de parto, como uma ferramenta não invasiva, segura e autogerenciável, que respeita o protagonismo da mulher e contribui para uma experiência de parto mais positiva e fisiológica.

As vantagens do uso da TENS

  • Não farmacológica: A TENS é uma opção sem medicamentos, o que significa que não há risco de efeitos colaterais para a mãe ou o bebê.

  • Controle sobre o tratamento: A mulher pode ajustar a intensidade da corrente elétrica durante as contrações, oferecendo um certo grau de autonomia e controle sobre a dor.

  • Redução da ansiedade: O simples fato de saber que existe uma alternativa não invasiva e segura pode ajudar a reduzir a ansiedade da gestante.

  • Sem riscos para o bebê: Como a TENS não envolve medicamentos, não há risco de prejudicar o bebê durante o parto.

  • Apoio emocional: Muitas mulheres relatam que a TENS, junto com técnicas de respiração e relaxamento, promove bem-estar e sensação de autocontrole, o que pode contribuir para uma experiência de parto mais positiva.

E qual a evidência científica sobre a eficácia da TENS no parto?

Os dados científicos mais recentes reforçam que a TENS pode ter um papel útil como método não farmacológico de alívio da dor no trabalho de parto. No ensaio clínico randomizado conduzido por Njogu et al. (2021), com mais de 300 mulheres, o grupo que recebeu TENS apresentou escores de dor significativamente menores e uma fase ativa do parto mais curta em comparação ao grupo controle. Esses resultados indicam que a TENS poderia colaborar para um trabalho de parto mais confortável sem comprometer a segurança materna ou fetal.

Entretanto, nem toda a literatura é inteiramente favorável. Algumas revisões sistemáticas apontam que o efeito geral da TENS no alívio da dor é modesto e que os resultados são heterogêneos entre os estudos. Mais recentemente, um estudo de coorte de 2025 relatou que o uso de TENS pode prolongar levemente a primeira fase do parto, mesmo sem aumentar lacerações perineais ou outros eventos adversos significativos. Essa discrepância nas evidências torna prudente interpretar a eficácia da TENS como potencial, mas não garantida em todos os casos.

No contexto brasileiro, vale destacar a posição da FEBRASGO (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia). Na “Diretriz Nacional de Assistência ao Parto Normal”, a FEBRASGO afirma que não há evidências suficientes para apoiar o uso da TENS como método eficaz para reduzir a dor no trabalho de parto. Ou seja: embora a TENS seja reconhecida como uma opção de alívio potencialmente segura, as diretrizes brasileiras mantêm uma postura cautelosa quanto à sua recomendação ampla, enfatizando que sua adoção deve se dar com transparência — explicando suas limitações e incertezas para a mulher.

Perguntas frequentes

  1. A TENS realmente alivia a dor do parto?

Sim, a TENS é eficaz no alívio da dor, especialmente nas fases iniciais do trabalho de parto. Estudos científicos indicam que ela pode ser uma boa opção para mulheres que preferem evitar medicamentos ou buscam alternativas naturais para o controle da dor, proporcionando conforto sem os efeitos colaterais dos analgésicos.

  1. Posso usar a TENS durante todo o trabalho de parto?

Sim, a TENS pode ser utilizada desde o início das contrações até o final do trabalho de parto. No entanto, a eficácia pode variar à medida que a intensidade das contrações aumenta. Em algumas situações, pode ser necessário combinar o uso de TENS com outros métodos de alívio da dor, dependendo do progresso do parto.

  1. A TENS é segura para mim e para o meu bebê?

Sim, a TENS é totalmente segura para a mãe e para o bebê. Por não envolver medicamentos, não há risco de efeitos colaterais ou complicações para o recém-nascido. É uma técnica não invasiva e bem tolerada.

  1. Posso usar a TENS se tiver algum problema de saúde?

Se você tiver um marcapasso, problemas cardíacos graves ou doenças de pele na região onde os eletrodos serão aplicados, é importante consultar seu médico ou fisioterapeuta antes de usar a TENS. Para a maioria das gestantes saudáveis, a TENS é segura e eficaz.

  1. Quanto tempo antes do parto devo começar a usar a TENS?

A TENS deve ser iniciada assim que as contrações começarem, geralmente na fase inicial do trabalho de parto. Não há necessidade de começar o uso antes, a menos que seja recomendado por um fisioterapeuta especializado em saúde da mulher para condições específicas.

  1. A TENS pode substituir a epidural ou outros medicamentos para dor?

Embora a TENS seja eficaz no alívio da dor nas fases iniciais, ela pode não ser suficiente para controlar a dor intensa nas fases mais avançadas do parto. Nesses casos, pode ser necessário recorrer à epidural ou a outros medicamentos. A TENS pode ser combinada com essas opções, se necessário, para um controle de dor mais completo.

Conclusão

A TENS no trabalho de parto se apresenta como uma alternativa segura e eficaz para o alívio da dor, especialmente nas fases iniciais do processo. Além de ser uma opção não farmacológica, ela oferece a possibilidade de um parto mais natural, sem os efeitos colaterais dos medicamentos. O que torna a TENS ainda mais especial é o sentimento de controle e bem-estar que ela proporciona, algo que pode ser fundamental para muitas mulheres ao longo dessa jornada única.

Se você está se preparando para o parto e busca maneiras de aliviar a dor de forma mais natural, converse com seu obstetra ou fisioterapeuta especializado. Eles podem te ajudar a entender se a TENS é a melhor escolha para o seu momento. Não tenha medo de explorar novas alternativas e descobrir o que traz mais conforto e confiança para você nesse processo tão importante!

Referências
  1. World Health Organization (WHO). Recommendations: Intrapartum care for a positive childbirth experience. Geneva: World Health Organization; 2018. Licence: CC BY-NCSA 3.0 IGO.

  2. Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO). Assistência ao parto da gestante de risco obstétrico habitual. São Paulo: FEBRASGO; 2021. (Protocolo n. 94/Comissão Nacional Especializada em Assistência ao Abortamento, Parto e Puerpério).

  3. Njogu, A., et al. (2021). Efeito da TENS no alívio da dor e na duração do trabalho de parto. BMC Pregnancy & Childbirth.

  4. Gallo, L., et al. (2023). A fisiologia da dor do parto e as alternativas não farmacológicas. Pain Management Nursing.

  5. Sluka, K. A., & Walsh, D. A. (2021). Mecanismos da dor e abordagens para alívio. Pain.

  6. MDPI (2025). Efeitos do uso de TENS na dor do parto. Journal of Clinical Medicine.