Lubrificação vaginal, o que eu preciso saber

Você já se sentiu "seca" no momento da relação sexual? Sente que se machuca facilmente com roupa íntima ou mesmo em exames ginecológicos? Você precisa ler este conteúdo!

Fisioterapeuta Pélvica Joyce Andrade Oliveira

10/24/20248 min read

A lubrificação vaginal é essencial para o equilíbrio, proteção e conforto do trato genital feminino. Ela é produzida principalmente por duas fontes:

  1. Glândulas de Bartholin e de Skene, localizadas na entrada vaginal, que secretam muco lubrificante durante a excitação sexual.

  2. Transudato vaginal, um fluido que “vaza” dos vasos sanguíneos da parede vaginal — especialmente durante o ciclo menstrual e a excitação — e mantém o ambiente úmido e elástico.

Essa lubrificação tem várias funções vitais: 1) Reduz o atrito durante o sexo, prevenindo microlesões e infecções. 2) Mantém o pH vaginal ácido (3,8–4,5), protegendo contra bactérias e fungos. 3) Ajuda na limpeza natural da vagina, eliminando células mortas e resíduos. 4) Preserva a elasticidade e a integridade dos tecidos vaginais, especialmente no climatério e pós-menopausa, quando os níveis de estrogênio caem. Em resumo, a lubrificação é um mecanismo biológico de proteção e prazer.
A vagina compartilha com a língua essa incrível capacidade de auto-hidratação e sensibilidade, mas com finalidades diferentes: uma fala e sente sabor, a outra expressa vitalidade, prazer e proteção.

A vagina e a língua são órgãos mucosos altamente vascularizados, ambos:

  • Revestidos por epitélio não queratinizado, ou seja, tecido úmido, flexível e sensível.

  • Dependem de boa irrigação sanguínea para manter a lubrificação e a sensibilidade.

  • Respondem a estímulos mecânicos e sensoriais (toque, pressão, temperatura).

  • E ambos são autolimpantes: a língua por meio da saliva; a vagina, pelo transudato e pelo equilíbrio da microbiota.

Mas há diferenças importantes:

  • A língua é revestida por papilas gustativas e participa da digestão;

  • A vagina é um canal de mucosa muscular elástica, com flora microbiana específica (lactobacilos) que protege contra infecções.

Por que que eu fico seca?

A sensação de secura na região íntima pode ter várias causas, não é um sintoma exclusivo de apenas uma condição. As mais comuns são:

  • Baixo nível de estrogênio – muito presente no período pré-menstrual, na menopausa e em mulheres que fizeram cirurgia para retirada dos ovários. Além da secura, pode causar alterações de humor, ondas de calor e acúmulo de gordura abdominal.

  • Altos níveis de estresse – o excesso de cortisol bagunça neurotransmissores e inibe a ação das células responsáveis pela lubrificação natural.

  • Hidratação insuficiente – beber pouca água desidrata não só a pele, mas também as mucosas do corpo, inclusive a vaginal.

Outro fator importante está relacionado ao tratamento de algumas doenças e à interação de determinados medicamentos com o sistema nervoso autônomo. Mulheres que passam por quimioterapia, radioterapia ou hormonioterapia — seja no tratamento do câncer de mama ou de outras condições ginecológicas e até psiquiátricas — podem apresentar secura vaginal intensa, que em alguns casos evolui para estenose vaginal induzida pelo tratamento oncológico, caracterizada pelo estreitamento e perda de elasticidade do canal vaginal. Essas alterações podem vir acompanhadas de microlesões por atrito, dor perineal, cólicas intensas e redução ou ausência do desejo sexual. É um tema delicado, mas extremamente relevante, que requer atenção especializada e abordagem cuidadosa.

👉(Saiba mais em: O impacto que o câncer pode causar nos músculos do assoalho pélvico).

Sobre os sintomas

Em fases de alteração hormonal, como o climatério, a menopausa, o pós-parto ou durante alguns tratamentos oncológicos e psiquiátricos, nós mulheres podemos sofrer com a chamada “secura vaginal”. Quando a mucosa vaginal perde lubrificação e elasticidade, ela se torna mais sensível, e o corpo começa a dar sinais bem claros.

Ardência, coceira ou queimação
— Sensação de irritação constante, mesmo fora da relação sexual.

Dor ou desconforto durante a penetração (dispareunia)
— O atrito aumenta por falta de lubrificação, podendo causar microfissuras e dor perineal.

Sensação de “aperto” ou rigidez vaginal
— O canal pode parecer mais estreito e menos elástico, especialmente durante o sexo ou exames ginecológicos.

Corrimento escasso ou alteração na lubrificação natural
— O fluxo vaginal fica reduzido, com aspecto mais seco ou pegajoso.

Sangramento leve após a relação sexual
— Pequenas lesões na mucosa podem provocar sangramento discreto.

Coceira e irritação externa (vulvar)
— A secura também pode afetar a vulva, deixando a pele mais sensível ao toque, roupas apertadas ou sabonetes.

Sensação de peso, cólicas leves ou dor pélvica
— Causadas pela tensão dos músculos do assoalho pélvico em resposta ao desconforto.

Diminuição da libido
— A dor e o incômodo durante o sexo levam à evitação e, consequentemente, à redução do desejo sexual.

Maior predisposição a infecções
— O pH vaginal torna-se menos ácido, o que facilita o crescimento de fungos e bactérias.

O ponto-chave

A secura vaginal não é apenas um problema sexual — é uma condição de saúde íntima. Ela pode estar associada à queda do estrogênio, estresse, uso de anticoncepcionais, antidepressivos, tabagismo ou falta de estímulo sexual. Quando começamos a temer a ida ao ginecologista por anseio da dor que irá sentir ao toque em exames invasivos, isto já é suficiente para te fazer buscar a correção deste problema. Não naturalize sentir dor! 

O tratamento é simples e eficaz quando conduzido por um(a) ginecologista e/ou fisioterapeuta pélvica, que pode indicar:

  • Hidratantes vaginais,

  • Lubrificantes com presença de óleo na composição,

  • Laser ou radiofrequência íntima (em casos específicos),

  • E, sobretudo, fisioterapia pélvica, que melhora a vascularização e estimula naturalmente a lubrificação.

Dicas douradas

Hidrate-se: a água é aliada do corpo todo, inclusive da região íntima.
Use hidratantes vaginais testados e aprovados pela ANVISA: existem opções seguras, inclusive veganas. O óleo de coco puro também pode ser útil, desde que de procedência confiável.
Aposte em lubrificantes de qualidade: produtos à base de óleo podem melhorar o conforto e tornar a experiência sexual mais prazerosa. Desejo não está necessariamente ligado à quantidade de lubrificação natural — e tudo bem contar com uma ajudinha extra.
Exercite seu assoalho pélvico: contrair e relaxar essa musculatura aumenta a circulação sanguínea na região, favorece a produção natural de lubrificação e melhora a resposta sexual. Como sempre digo: músculos e cérebro funcionam melhor quanto mais a gente os usa!

Preguntas frequêntes

1. Secura vaginal é normal na menopausa?
Sim, mas não deve ser ignorada. Há recursos seguros para tratar e aumentar o conforto no dia a dia, especialmente nas relações sexuais e nos exames clínicos necessários. 

2. Quem fez tratamento de câncer pode usar reposição hormonal?
Depende do tipo de câncer. Muitas vezes opta-se por hidratantes e lubrificantes não hormonais, sempre com orientação médica. O ideal é conversar com o profissional responsável pelo seu caso clínico, que deve ser um especialista em oncologia, e dizer o que sente que te incomoda e o que você deseja alcançar com o tratamento, alinhando suas expectativas com a realidade clínica em tempo oportuno. Não tome decisões com base em informações soltas em artigos da internet ou vídeos!

3. O óleo de coco funciona mesmo?
Pode ajudar como hidratante, mas precisa ser puro e de boa procedência. Nem todas se adaptam. Não use óleo de coco que costumamos comprar para culinária, ele não está purificado o suficiente para não causar alergias a pessoas sensíveis. 

4. Exercícios do assoalho pélvico ajudam na lubrificação?
Sim, porque aumentam a circulação sanguínea e estimulam as glândulas responsáveis pela produção de lubrificação. Além de trazer consciência corporal, o que aumenta a satisfação consigo mesma e abre portas para novas oportunidades relacionadas ao prazer sexual. 

5. A lubrificação vaginal é o mesmo que excitação sexual?
Não exatamente. A lubrificação natural é uma resposta fisiológica que mantém a vagina úmida, elástica e protegida mesmo fora da relação sexual. Durante a excitação, há um aumento momentâneo dessa umidade, mas a lubrificação basal está sempre presente e é essencial para o conforto íntimo.

6. O que pode causar secura vaginal?
A queda de estrogênio (como na menopausa ou pós-parto) é a causa mais comum, mas outros fatores também interferem: uso de anticoncepcionais, antidepressivos, estresse, tabagismo e tratamentos oncológicos (como quimioterapia e radioterapia).

7. A secura vaginal tem tratamento?
Sim! Hoje existem opções seguras e eficazes, desde hidratantes e lubrificantes vaginais até tratamentos fisioterapêuticos, laser íntimo, radiofrequência e uso de estrogênio local (quando indicado). O ideal é buscar avaliação com um(a) fisioterapeuta pélvica ou ginecologista para definir a melhor abordagem.

8. Como posso prevenir a secura vaginal?
Cuide da hidratação corporal, pratique exercícios pélvicos regulares (como o TMAP), evite o uso de sabões íntimos agressivos e mantenha uma alimentação equilibrada. Relações sexuais prazerosas e a movimentação do corpo também ajudam a estimular a vascularização e a lubrificação natural.

9. Quando devo procurar ajuda profissional?
Se você sentir ardência, dor durante o sexo, coceira ou sensação de ressecamento constante, não espere melhorar sozinha. Quanto antes houver intervenção, melhor será a recuperação da lubrificação e da saúde íntima.

Erros comuns

  • Normalizar a secura como “parte da idade”

  • Automedicar-se com hormônios sem orientação

  • Usar produtos caseiros não testados (como óleos não indicados)

  • Achar que só hormônio resolve, quando há várias opções seguras

  • Evitar relações ou exames por medo da dor, perpetuando o ciclo de desconforto

Então…

Não normalize a secura vaginal e por consequência a dor e infecções recorrentes. Prestar atenção aos sinais, cuidar da hidratação e buscar orientação profissional são passos que fazem toda a diferença. Seja por alterações hormonais naturais, pelo estresse do dia a dia ou pelos efeitos de tratamentos — como os do câncer —, há recursos seguros e eficazes para recuperar o conforto e a saúde íntima.

Cuidar da sua intimidade é também cuidar da sua saúde como um todo, do seu prazer e da sua felicidade.

Leituras relacionadas

Referências:
  1. Faubion SS, Sood R, Kapoor E. Genitourinary syndrome of menopause: management strategies for the clinician. Mayo Clin Proc. 2022;97(5):894-904.

  2. Nappi RE, Palacios S. Impact of vulvovaginal atrophy on sexual health and quality of life at postmenopause. Climacteric. 2014;17(1):3-9.

  3. International Continence Society (ICS). Guidelines on pelvic floor dysfunction and rehabilitation. ICS Annual Scientific Meeting; 2024.

  4. The North American Menopause Society (NAMS). The 2022 hormone therapy position statement of The North American Menopause Society. Menopause. 2022;29(7):767-794.

  5. American College of Obstetricians and Gynecologists (ACOG). Treatment of urogenital symptoms in individuals with a history of estrogen-dependent breast cancer. ACOG Clinical Consensus No. 2. Obstet Gynecol. 2021;138(6):950-960.

  6. Danan M, et al. Treatments for genitourinary syndrome of menopause: a systematic review. Ann Intern Med. 2024;177(3):320-333.

  7. Faught BM, et al. Nonhormonal therapies for genitourinary syndrome of menopause: a systematic review and meta-analysis. Menopause. 2021;28(12):1356-1365.

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grayscale photo of woman licking her shoulder
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cracked brown soil
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the water is running down the side of the wall
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