Parto ativo: como a fisioterapia pode ajudar

Fisioterapia para Parto Ativo: Aprenda as melhores posições para o trabalho de parto, técnicas de respiração e o preparo corporal para um nascimento humanizado.

Fisioterapeuta Pélvica Joyce Andrade Oliveira

9/29/202511 min read

O parto é uma das experiências mais intensas e emocionantes da vida de uma mulher. Para muitas, pode ser uma mistura de ansiedade, expectativas e, claro, dor. Mas você sabia que a fisioterapia pélvica pode ser uma grande aliada durante o parto ativo? Ela não só ajuda a diminuir a dor, mas também oferece mais controle, segurança e diminui significativamente os riscos de lasceração perineal e intervenções médicas de urgência para a parturiente, ajudando a tornar o momento ainda mais positivo.

Neste artigo, vamos explorar como a fisioterapia pélvica voltada para gestantes pode ser utilizada para facilitar o trabalho de parto, promover mais conforto e apoiar a mulher em todo esse processo. Lembrando que já conversamos sobre os principais benefícios da preparação física para o parto e como a fisioterapia ativa pode transformar sua experiência neste post aqui: Parto com movimento: como posições verticais e mobilidade reduzem a dor e aceleram a dilatação no trabalho de parto. Hoje abordaremos posicionamento, conceitos e tempo hábil para aplicar algumas técnicas que ajudam a proporcionar conforto para a gestante.

O que é o parto ativo?

O conceito de parto ativo refere-se a uma abordagem que incentiva a mulher a participar ativamente do processo de parto, em vez de apenas esperar passivamente a chegada do bebê. Durante o parto ativo, a gestante é incentivada a mudar de posição, se movimentar e adotar técnicas que facilitem a progressão do parto e melhorem o conforto. O protagonismo fica por conta da parturiente e não da equipe de saúde, esta mulher irá guiar o que ela deseja fazer e quais posições assumir, para além disto, ela consegue coordenar eventos concomitantes como o uso da música de sua escolha, ir para um local como a praia ou um rio contemplar a natureza antes do trabalho de parto ativo, escrever uma carta para seu bebê ler quando for maior de idade. As ideias são inesgotáveis.

O objetivo do parto ativo é permitir que a mulher se sinta mais empoderada e no controle do processo, ajudando-a a lidar melhor com as contrações e tornando a experiência de parto mais natural e fluida. A fisioterapia entra nesse contexto como uma importante ferramenta para melhorar a mobilidade, o relaxamento e o alívio da dor. Eu gosto de pensar que nós, fisioterapeutas pélvicas, buscamos conectar sua essência à sua natureza selvagem, porque queremos que escute seu corpo e nos comunique o que ele tem a dizer. Desta forma, a nova mãe escuta a si mesma e consegue traduzir-se em ações e instruções para a equipe de saúde assisti-la da melhor forma, sem substituí-la em nada. 

Como a fisioterapia pode ajudar no parto ativo?

A fisioterapia obstétrica é especializada em preparar o corpo da mulher para o parto fazendo com que a mesma tenha o controle sobre a contração e o relaxamento de seu sistema musculoesquelético. Ela utiliza técnicas e exercícios que têm como objetivo fortalecer, melhorar flexibilidade e promover relaxamento  na musculatura pélvica. Tudo isso de forma gradual e respeitosa, sem necessidade de medicamentos. Apesar de voltarmos nosso olhar para o canal vaginal, também é responsabilidade da fisioterapeuta ajudar esta gestante a criar uma reserva energética muscular.  

1. Fortalecimento da musculatura pélvica

Não é com todas, mas é comum que algumas mamães apresentem incontinência urinária durante a gestação, ou seja, podem perder um pouco de xixi ao respirar, dar risada, ou aganhar-se. Também é comum temer a diástase abdominal, e pensam que precisa de uma cinta apertada ou algo que segure tudo no lugar. Exercícios específicos ensinados pelo(a) fisioterapeuta ajudam a fortalecer essa musculatura, melhorando sua resistência e coordenação, o que facilita o trabalho de parto. Podemos realizar o treinamento com auxílio dos dedos do(a) terapeuta, com um balonete que tem um relógio que marca a contração por milímetro de mercúrio, e por instrução verbal acompanhada por inspeção do profissional que te acompanha. 

Os meios de aplicar resistência a essa musculatura são diversos, pode ser desde o tempo de duração da contração até o uso de pesinhos adequados caso seja coerente o seu uso, depende muito de cada contexto e objetivo. O fortalecimento do assoalho pélvico pode prevenir complicações, como incontinência urinária e prolapsos, que podem ocorrer após o parto também. Além de tudo, é esta contração efetiva que irá ajudar a distribuir as pressões abdominais corretamente, em conjunto com o músculo transverso do abdome, tratando e prevenindo a temida diástase abdominal. 

2. Mobilidade e posições de parto

Na minha opinião, mais do que fazer força, a gestante precisa exercitar o relaxamento dos músculos, e não somente do assoalho pélvico, mas de todo o corpo, permitindo maior liberdade de movimento durante o trabalho de parto. Alterar de posição, andar ou até usar bolas de parto ajuda a diminuir a dor e favorece a descida do bebê. A fisioterapia pode e deve ensinar à mulher quais posições são mais eficazes para facilitar o parto e reduzir a dor, porém, ela mesma já deve ter feito todo um treinamento antes de como permitir que seu corpo estique-se a seu favor. 

Além disso, o fisioterapeuta pode orientar a gestante sobre como usar técnicas de respiração e alongamento para reduzir o estresse e relaxar os músculos durante as contrações. Isso é importantíssimo para melhorar a oxigenação do bebê. O movimenta-se bombeia um sangue cheio de nutrientes e oxigênio por todo o corpo e, em especial, na placenta. Além de trazer o corpo para o estado presente, a respiração e os alongamentos melhoram a nutrição dos nossos tecidos e sistemas. 

3. Técnicas de relaxamento e respiração

Controlar a respiração é uma das formas mais eficazes de lidar com a dor durante o parto. Diversos estudos demonstram que técnicas respiratórias adequadas modulam o sistema nervoso autônomo, reduzem a liberação de adrenalina e favorecem a produção de ocitocina, hormônio essencial para a progressão natural do parto e o vínculo materno. Entre as práticas com evidência científica, destacam-se:

  • Respiração lenta e profunda: consiste em inspirar pelo nariz de forma suave, expandindo o abdome, e expirar lentamente pela boca. Essa técnica reduz a frequência cardíaca, aumenta o aporte de oxigênio e ajuda a manter o foco e o relaxamento durante as contrações.

  • Respiração com lábios frênicos (Delgado, 2017): descrita por Alexandre Delgado como uma variação respiratória de caráter diafragmático, essa técnica envolve expirações prolongadas e suaves com os lábios semiabertos, produzindo leve resistência à saída do ar. Essa resistência estimula o nervo frênico e o diafragma, promovendo relaxamento muscular, melhora da oxigenação e estabilidade emocional.

    A gestante é orientada a inspirar lentamente pelo nariz e expirar com os lábios entreabertos, como se soprasse uma vela distante, prolongando a expiração o máximo possível sem esforço. Eu ainda peço para que a mesma perceba que o canal vaginal parece abrir-se no momento da expiração, o que foi cientificamente comprovado. Sentada sobre seus ísquidos e com olhos fechados, conduzo esta experiência enquanto explico como usá-la.

  • Respiração ritmada (ou cadenciada): a mulher busca manter um padrão regular de inspiração e expiração, adaptando o ritmo conforme a intensidade das contrações. Essa técnica ajuda a sincronizar o movimento respiratório com as ondas de dor, transformando o desconforto em uma experiência mais controlada e consciente.

O fisioterapeuta, a doula ou outro profissional de saúde orienta a gestante sobre quando e como aplicar cada técnica, ajudando-a a perceber os sinais do próprio corpo e a ajustar o ritmo respiratório conforme o momento do parto. Assim, a mulher tende a controlar melhor as contrações, reduzir o medo e aliviar a dor(Lembrando: não é milagre — a dor pode diminuir, mas não desaparecer completamente!)

4. Alívio da dor com técnicas não farmacológicas

Embora a analgesia seja uma opção inegociável para algumas mulheres, muitas delas preferem alternativas não farmacológicas para aliviar a dor, quando possível. A fisioterapia pode ajudar utilizando técnicas como TENS (estimulação elétrica transcutânea). Ela pode reduzir a liberação de adrenalina e cortisol, atenuando a resposta ao estresse, estimular a liberação de ocitocina, quando associada ao relaxamento e conforto físico. favorecer o fluxo sanguíneo uterino e a oxigenação fetal, pela melhora do tônus autonômico e redução da dor.

A TENS é uma técnica eficaz para reduzir a dor nas costas e no abdômen durante as contrações. O fisioterapeuta pode aplicar os eletrodos na área de dor, ajudando a mulher a se sentir mais confortável e relaxada. O manejo deste aparelho pode não ser de uso exclusivo dos fisioterapeutas, mas a aplicação com finalidade terapêutica e clínica é de competência da fisioterapia. Outros profissionais podem utilizá-la apenas de forma complementar ou sob supervisão/orientação técnica, respeitando os limites éticos e legais de sua atuação.

Embora a analgesia farmacológica seja indispensável para algumas mulheres, a busca por métodos não farmacológicos como a TENS representa uma estratégia válida e segura para promover conforto, autonomia e bem-estar durante o parto.

É importante reconhecer, contudo, que as evidências científicas sobre a TENS no alívio da dor do parto ainda são limitadas e heterogêneas, especialmente quanto à intensidade e à duração do efeito analgésico. Ainda assim, trata-se de uma alternativa com baixo risco e potencial benefício, que pode ser incorporada de acordo com a realidade, preferências e respostas individuais de cada gestante.

Em suma, a tentativa é válida: quando aplicada de forma adequada e acompanhada por profissionais capacitados, a TENS pode contribuir para uma experiência de parto mais confortável, participativa e humanizada, mesmo que não substitua outras opções de analgesia.

5. Preparação emocional e mental para o parto

A fisioterapia no pré-natal também exerce um papel essencial na preparação emocional e psicológica da mulher para o parto. Durante as sessões, a gestante tem espaço para conversar sobre expectativas, medos e ansiedades, construindo, pouco a pouco, uma mentalidade mais positiva e confiante diante do nascimento.

A autoconfiança que nasce desse preparo físico e emocional ajuda a reduzir o medo do parto e a fortalecer a sensação de controle sobre o próprio corpo e o processo. Ainda assim, é importante reconhecer que nove meses nem sempre são suficientes para que uma mulher se convença de que é capaz de parir de forma natural — e está tudo bem. Cada uma de nós carrega uma história única, construída por experiências, crenças e vivências que podem tanto impulsionar quanto limitar nossa coragem em determinados momentos da vida.

Por isso, não existe parto ideal, existe o parto possível e desejado. O mais importante é que mãe e bebê estejam bem e saudáveis no final.

Esses nove meses podem ser um convite para acompanhar o próprio processo com curiosidade, sem pressa, respeitando o tempo do corpo e da gestação. Eu entendo a ansiedade de conhecer aquele pequeno rostinho, mas talvez valha a pena celebrar os pequenos progressos: escrever um diário, fazer cartas para o bebê, registrar o que tem sentido, o que comprou, o que criou com as próprias mãos. Buscar fotos antigas da família, pintar, fotografar, desenhar… — afinal, a arte é uma forma de contar histórias, e a sua está sendo produzida dentro de você. 🌸

Perguntas Frequentes

1. A fisioterapia realmente ajuda a diminuir a dor no parto?

Sim! Diversos estudos mostram que a fisioterapia, com exercícios de fortalecimento, alongamento e técnicas de relaxamento, pode reduzir a intensidade da dor e aumentar o conforto durante o trabalho de parto. Além disso, ela ajuda a melhorar a movimentação e a posição do bebê, o que também pode facilitar o parto.

2. Posso começar a fisioterapia durante a gestação?

Sim, quanto mais cedo você começar, melhor! A fisioterapia deve ser iniciada no pré-natal, mas mesmo se o parto já estiver próximo, ainda é possível se beneficiar de técnicas de relaxamento, fortalecimento e mobilidade para o parto. O fisioterapeuta vai ajustar o tratamento para as suas necessidades e o tempo restante até o parto.

3. A fisioterapia é indicada para todas as mulheres grávidas?

Na maioria dos casos, sim! A fisioterapia é indicada para gestantes saudáveis, mas se houver complicações, como gestação de alto risco, o médico deve ser consultado antes de iniciar qualquer tipo de exercício. A fisioterapia obstétrica é personalizada e adaptada às condições de cada mulher.

4. O que é o parto ativo e como ele se diferencia do parto tradicional?

O parto ativo é quando a mulher tem mais controle sobre o processo de parto, sendo encorajada a se mover, mudar de posição e participar ativamente. Já o parto tradicional geralmente envolve um maior número de intervenções médicas e a mulher fica mais restrita a ficar deitada na cama. O parto ativo, com a ajuda da fisioterapia, permite que a mulher tenha mais liberdade, conforto e controle.

5. Posso usar fisioterapia no trabalho de parto em casa?

Sim, a fisioterapia pode ser aplicada tanto em ambiente hospitalar quanto em casa, desde que seja feito o acompanhamento de um fisioterapeuta especializado. Técnicas de relaxamento, exercícios respiratórios e movimentação ativa podem ser feitas em casa para preparar a mulher, mas, se necessário, o acompanhamento do fisioterapeuta pode continuar no hospital.

6. A fisioterapia ajuda na recuperação pós-parto também?

Com certeza! A fisioterapia não é útil apenas durante o trabalho de parto, mas também no pós-parto. Ela pode ajudar a fortalecer o assoalho pélvico, aliviar dores musculares e ajudar na recuperação do corpo da mulher após o parto, seja ele vaginal ou cesáreo.

7. A fisioterapia no parto ativo pode substituir a epidural ou outros analgésicos?

A fisioterapia pode reduzir a necessidade de analgésicos e epidurais, especialmente nas fases iniciais do trabalho de parto. No entanto, para alguns casos, onde a dor é mais intensa, a analgesia farmacológica pode ser necessária. A fisioterapia é uma opção complementar que pode ser usada em conjunto com outros métodos.

Por fim...

A fisioterapia no parto ativo é uma aliada poderosa para transformar o nascimento em uma experiência mais consciente, segura e cheia de significado. Por meio de exercícios de fortalecimento, técnicas de respiração e relaxamento, e um acompanhamento que acolhe corpo e emoção, a mulher encontra caminhos para sentir-se protagonista do próprio parto — com mais conforto, confiança e serenidade.

Cada parto é único, assim como cada história. A fisioterapia não promete eliminar a dor, mas ajuda a reconhecê-la, compreendê-la e atravessá-la com coragem e presença.

Se você está esperando um bebê, permita-se viver esse processo com curiosidade e carinho. Converse com um fisioterapeuta especializado, explore as possibilidades e descubra como o cuidado com o seu corpo também pode ser um gesto de amor para receber quem está chegando.

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