Fisioterapia Pélvica é mesmo necessária?
Estamos acostumados a buscar academia e exercitar músculos visíveis como glúteos, bíceps, abdome. Mas, será que isso é tudo?
Fisioterapeuta Pélvica Joyce Andrade Oliveira
5/8/20247 min read
Músculo "invisível" que faz toda diferença
O assoalho pélvico é constituído por um complexo sistema de músculos, fáscias e ligamentos que sustentam os órgãos pélvicos e contribuem para funções essenciais como continência urinária e fecal, suporte visceral, estabilidade postural e resposta sexual.
Apesar de invisibilizado nos treinos, desde a musculação clássica até esportes como natação e fisiculturismo, quando sofre impacto constante e vem a ficar enfraquecido, favorece disfunções como incontinência urinária, dor pélvica e (o mais dramático entre elas) prolapso de órgãos pélvicos.
O Treinamento dos Músculos do Assoalho Pélvico (TMAP) é reconhecido como o método mais eficaz e de primeira linha na prevenção e tratamento dessas disfunções, com evidência científica consolidada e recomendações da International Urogynecological Association (IUGA) e da International Continence Society (ICS). Aprender como realizar estes exercícios e de que forma recrutar os músculos do assoalho pélvico em situações de esforço e aumento da pressão intrabominal é essencial para ficar longe de problemas que acabamos de citar.
"Esquecido”, mas essencial
Os músculos do assoalho pélvico são os heróis invisíveis da biomecânica humana.
Em conjunto com as fáscias e ligamentos, eles formam uma “rede de sustentação” na base da pelve — segurando órgãos como bexiga, útero e intestino no lugar certo, e participando de funções vitais como urinar, evacuar, respirar, sustentar a postura e até sentir prazer.
Apesar de trabalhar o tempo todo, ele é muitas vezes esquecido nos treinos de musculação ou alguns esportes como a corrida. Quando está saudável, tudo flui: continência, estabilidade e performance sexual. Mas quando fica enfraquecido ou com acúmulo de tensão, pode surgir aquele combo de incômodos nada discretos — incontinência urinária, dor pélvica, queda de órgãos (prolapso) e/ou dificuldades sexuais.
Os “guardiões da pelve” respondem à pressão abdominal (quando tossimos, rimos ou levantamos peso), ajudam no controle das pressões abdominais, distribuindo-a de forma fisiologicamente proporcional. Também tem papel importante na fase expulsiva do parto, atuando em sinergia com o diafragma e os músculos abdominais, indo para o outro extremo de sua funcionalidade, que é o relaxamento.
Por isso, o Treinamento dos Músculos do Assoalho Pélvico (TMAP) é considerado o padrão-ouro para prevenir e tratar disfunções uroginecológicas. Estudos mostram que programas regulares de TMAP fortalecem o tônus, melhoram a propriocepção e restauram o controle muscular, sendo recomendados pela International Continence Society (ICS) e pela International Urogynecological Association (IUGA) como primeira linha de tratamento não invasivo
Descrição: vista inferior do períneo, posição de litotomia. (Fonte da imagem: domínio público)
O que acontece quando ele enfraquece?
Quando o assoalho pélvico enfraquece, ele perde parte da sua capacidade de sustentação, controle e resposta às pressões abdominais. Isso gera uma série de alterações que podem afetar o corpo física, funcional e emocionalmente. Veja o que cada componete funcional afeta:
Perda da sustentação dos órgãos pélvicos
Os músculos e ligamentos deixam de sustentar adequadamente a bexiga, o útero e o reto.
Isso pode levar ao prolapso dos órgãos pélvicos — quando um desses órgãos “desce” ou se projeta em direção à vagina, gerando uma sensação de “bola” entre as pernas.
Comprometimento da continência urinária e fecal
O controle da urina e das fezes depende da contração eficaz dos músculos do assoalho pélvico.
Quando eles estão fracos, surgem sintomas como incontinência urinária (escapes de urina ao tossir, rir ou correr) ou incontinência fecal/gases.
Alterações na função sexual
O enfraquecimento pode reduzir a sensibilidade e o tônus vaginal, afetando a excitação, o orgasmo e o prazer.
Em alguns casos, também pode gerar dor pélvica ou desconforto durante a relação sexual. A lubrificação também é prejudicada, o que causa a sensação de “secura”, embora este não seja o único fator de causa!
Dores e sobrecarga musculoesquelética
O assoalho pélvico faz parte do “core” (junto com abdômen, lombar e diafragma).
Quando ele não sustenta bem, o corpo tenta compensar com outros músculos, o que pode causar dor lombar, instabilidade pélvica ou até alterações posturais.
Impacto na qualidade de vida
Os sintomas podem gerar vergonha, insegurança, retraimento social e sexual, afetando a autoestima e o bem-estar emocional.
É comum também que pessoas que sofrem com alguma disfunção pélvica passem a deixar de validar a sua dor em busca de corresponder às expectativas do parceiro(a), gerando ainda mais frustração e redução da autoestima.
Causas comuns de enfraquecimento
Gestação e parto vaginal (estiramento e sobrecarga dos tecidos).
Menopausa (redução do estrogênio → menor tonicidade muscular).
Sedentarismo.
Obesidade (aumento da pressão abdominal).
Tosse crônica, prisão de ventre, levantamento de peso incorreto.
Envelhecimento natural.
Pós-quimioterapia
Como a fisioterapia pélvica pode ajudar
A boa notícia é que essa musculatura pode ser treinada como qualquer outra. A fisioterapia pélvica ensina técnicas de fortalecimento, relaxamento e coordenação, ajustadas à realidade clínica de cada pessoa.
Isso inclui desde o treinamento supervisionado dos músculos do assoalho pélvico (TMAP/PFMT) — como tratamento de primeira linha para incontinência urinária — até o uso de biofeedback, eletroterapia, cones vaginais, dilatadores e estratégias educativas com auxílio de games e eletromiografia tanto para hábitos urinários quanto para intestinais.
Mais do que prevenir ou tratar sintomas, esse trabalho impacta diretamente a qualidade de vida: melhora a autoconfiança, aumenta a lubrificação natural e o prazer sexual, favorece a postura e corrige os efeitos da diástase abdominal — além de potencializar o desempenho físico em atividades moderadas a vigorosas.
Sem contar a redução dos custos em saúde com recursos paliativos, como fraldas e absorventes, e as idas à urgência em busca de alívio para a dor sem tratar a causa real.
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Perguntas frequêntes
1. Qualquer pessoa pode treinar o assoalho pélvico?
Sim. Mulheres e homens de todas as idades podem se beneficiar, desde jovens até idosos. Tudo depende do tipo de disfunção, disponibilidade e colaboração do paciente, e de um bom profissional que conduza o caso clínico da forma mais responsável possível.
2. Em quanto tempo aparecem os resultados?
Estudos apontam melhora em 8 a 12 semanas de treino supervisionado associado à prática em casa. É prescrito um programa individual, onde as contrações ao longo do dia não podem ultrapassar 200 (duzentas). Sejam contrações de potência (rápidas) ou resistência (lentas), é preciso respeitar o ponto de fadiga do músculo, ou seja, não adianta treinar com o músculo muito cansado.
3. Posso fazer os exercícios sozinha(o)?
Alguns até podem ser ensinados, mas a eficácia comprovada vem do acompanhamento profissional, que garante execução correta e progressão adequada. São vendidos cursos na internet que incentivam esta prática, contudo, para ter certeza do bom aproveitamento deste recurso, é importante passar por um profissional que te avalie e constate sua aptidão a seguir os exercícios por conta própria, descartando qualquer problema adjacente.
4. O treino ajuda no prazer sexual?
Sim. O fortalecimento e a coordenação muscular aumentam o prazer, reduzem a dor e favorecem a lubrificação natural. O aumento da percepção da região genital, quando estimulado da maneira correta, irá resultar em maiores sensações percebidas no momento na excitação, aumentando também a área de prazer.
Quando buscar a fisioterapia pélvica
Incontinência urinária ou fecal, mesmo que pequena
Dor pélvica ou desconforto durante relações
Sensação de peso ou “bola” vaginal/anal
Constipação frequente ou evacuação incompleta
Homens no pós-operatório de cirurgias de próstata
Mulheres no pré ou pós-parto
Identificou qualquer incômondo no assoalho pélvico e ter sido descartada a possibilidade de infecção.
Erros comuns
Achar que “Kegel" é só apertar ”aperta e solta"
Achar que Treino dos músculos do assoalho pélvico é o mesmo que pompoarismo
Acreditar que dor na relação sexual é normal
Acreditar que algumas pessoas podem ter prazer sexual e outras não
Contrair sem aprender a relaxar
Abandonar o tratamento antes do tempo recomendado
Ignorar sinais como dor e ardência
Pensar que homens não precisam de assistência na saúde do assoalho pélvico
Se você se identificou com algum desses sintomas ou se deparou cometendo algum desses erros comuns, saiba que há tratamento e correção! — E ele começa com conhecimento e cuidado com o seu corpo. Agende uma consulta com seu profissional de referência.
Leituras relacionadas
📌 Enjoy Fisio Pélvica — Conteúdo baseado em evidência científica, traduzido em linguagem acessível para promover autonomia, saúde íntima e qualidade de vida.
Referências:
Abrams P, Cardozo L, Wagg A, Wein A, et al. ICS 2024 International Continence Society Guidelines. Neurourol Urodyn. 2024.
Dumoulin C, et al. Pelvic floor muscle training versus no treatment for urinary incontinence in women. Cochrane Database Syst Rev. 2022;(5): CD005654.
IUGA Committee Opinion. Best practices for pelvic floor rehabilitation. Int Urogynecol J. 2023.
BO, K. et al. Evidence-based physical therapy for the pelvic floor: bridging science and clinical practice. 2. ed. London: Elsevier, 2017.
DUMOULIN, C.; HAY-SMITH, E. J. C. Pelvic floor muscle training versus no treatment for urinary incontinence in women. Cochrane Database of Systematic Reviews, v. 10, 2018.


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