O que é incontinência urinária e seus principais tipos
Você sabia que existem diferentes formas de perda urinária — e que cada uma delas tem um tratamento específico? Descubra os principais tipos, causas e estratégias de cuidado baseadas em evidência.
Fisioterapeuta Pélvica Joyce Andrade Oliveira
9/28/20256 min read
Nos posts sobre exercícios para Incontinência Urinária 1 e exercícios para IU 2 aprendemos que perder urina sem querer não é “normal” em nenhuma idade, embora seja muito mais comum do que se imagina. Esse problema, chamado incontinência urinária (IU), pode afetar mulheres, homens e até crianças, comprometendo a qualidade de vida, a autoestima e a saúde íntima.
De acordo com a International Continence Society (ICS) e a International Urogynecological Association (IUGA), a IU é definida como qualquer perda involuntária de urina e pode se apresentar de diferentes formas. Conhecer os tipos de incontinência ajuda a identificar o problema e a buscar o tratamento correto.
Tipos de Incontinência Urinária (IUGA/ICS)
Incontinência de Esforço
É a perda involuntária de urina desencadeada por atividades que aumentam a pressão dentro do abdome, como tossir, espirrar, rir, correr ou levantar peso. Esse tipo ocorre quando o assoalho pélvico e os mecanismos de suporte da uretra não conseguem resistir à pressão exercida sobre a bexiga.
Exemplo prático: mulher no pós-parto que percebe escapes de urina ao subir escadas ou carregar o bebê no colo.
Incontinência de Urgência
Caracteriza-se pela perda involuntária de urina associada a uma vontade súbita, forte e difícil de controlar, geralmente causada por contrações involuntárias do músculo da bexiga (detrusor). A pessoa sente que precisa urinar imediatamente, mas não consegue segurar até chegar ao banheiro.
Exemplo prático: homem que, ao sentir urgência ao chegar em casa, perde urina antes de abrir a porta.
Incontinência Mista
É quando a pessoa apresenta sintomas combinados de incontinência de esforço e de urgência — ou seja, tanto escapes durante atividades que aumentam a pressão abdominal (como tossir, rir ou praticar exercícios), quanto episódios de urgência súbita, em que não consegue segurar a urina até chegar ao banheiro. Esse tipo costuma ser mais complexo de manejar, porque envolve mecanismos diferentes da bexiga e do assoalho pélvico.
Exemplo prático: pessoa que relata perder urina ao tossir, mas também apresenta episódios de urgência frequentes ao longo do dia.
Incontinência Postural
Refere-se à perda involuntária de urina desencadeada por mudanças de posição corporal, especialmente ao passar de deitada para em pé ou ao se levantar de uma cadeira. O mecanismo está relacionado ao súbito aumento da pressão intra-abdominal combinado com o reposicionamento da bexiga, o que pode revelar falhas no fechamento uretral. Esse tipo de IU é reconhecido pela IUGA/ICS como uma forma distinta de escape.
Exemplo prático: idosa que perde urina ao se levantar da cama pela manhã.
Enurese Noturna
É a perda involuntária de urina durante o sono, popularmente conhecida como “xixi na cama”. Ocorre principalmente em crianças, mas pode persistir na adolescência e, em casos mais raros, na vida adulta. Pode estar associada a atraso na maturação do sistema nervoso, produção excessiva de urina à noite ou fatores genéticos.
Exemplo prático: criança em idade escolar que, apesar de não ter escapes durante o dia, continua molhando a cama à noite.
Incontinência Contínua
Caracteriza-se pela perda constante e ininterrupta de urina, sem períodos de continência. Geralmente está associada a alterações anatômicas ou lesões, como fístulas vesicovaginais ou ureterovaginais, malformações congênitas ou lesões graves de esfíncter. É um quadro menos comum, mas que impacta intensamente a qualidade de vida e costuma exigir avaliação médica especializada e, muitas vezes, tratamento cirúrgico.
Exemplo prático: mulher com fístula vesicovaginal que apresenta gotejamento contínuo de urina, mesmo em repouso.
Incontinência Insensível
É a situação em que a pessoa percebe a roupa íntima molhada de urina, mas não consegue identificar quando ocorreu o escape. Isso indica ausência de percepção do ato miccional ou falha nos mecanismos sensoriais da bexiga e uretra. Pode estar associada ao envelhecimento, a algumas condições neurológicas ou a alterações na sensibilidade vesical.
Exemplo prático: idoso que só percebe a perda urinária ao trocar de roupa, sem lembrar de nenhum episódio de urgência ou esforço.
Incontinência Coital
Trata-se da perda involuntária de urina durante a atividade sexual, podendo ocorrer tanto na penetração quanto no orgasmo. Esse tipo de IU, muitas vezes subnotificado por vergonha, pode impactar negativamente a autoestima, a intimidade do casal e a qualidade da vida sexual. Está relacionado a disfunções do assoalho pélvico e pode coexistir com outros tipos de incontinência, como a de esforço ou a de urgência.
Exemplo prático: mulher que apresenta escapes urinários no momento do clímax durante a relação.
Incontinência Oculta (pós-prolapso)
É a perda de urina que se manifesta apenas após a correção de um prolapso genital. Isso acontece porque, em alguns casos, o prolapso pode “tamponar” ou bloquear parcialmente a uretra, mascarando a incontinência de esforço. Após a cirurgia de correção ou a redução manual do prolapso, o escape torna-se evidente. Por isso, é importante que pacientes com prolapso sejam avaliadas cuidadosamente antes da cirurgia, incluindo testes específicos para detectar esse tipo de IU.
Exemplo prático: mulher que nunca apresentou escapes, mas após a cirurgia de correção do prolapso vaginal passou a perder urina ao tossir ou realizar esforços.
Incontinência Extrauretral
É a perda de urina que ocorre por canais diferentes da uretra, geralmente devido a alterações anatômicas ou condições patológicas. As causas mais comuns são fístulas urinárias (vesicovaginais, ureterovaginais, ureterointestinais) e malformações congênitas do trato urinário. Nesses casos, a urina drena continuamente ou em quantidade variável por trajetos anormais, independente da função da bexiga ou da uretra. O diagnóstico exige avaliação médica especializada e, em muitos casos, o tratamento é cirúrgico.
Exemplo prático: paciente com malformação urogenital que apresenta escapes de urina por outro canal, sem passar pela uretra.
👩⚕️ Saúde da Mulher
A IU atinge até 1 em cada 3 mulheres. Fatores de risco:
Gestação e parto (especialmente parto vaginal instrumental).
Menopausa, pela queda hormonal.
Cirurgias ginecológicas.
Impactos: autoestima, vida sexual e até abandono de atividades físicas.
👨 Saúde do Homem
Nos homens, a IU é frequentemente associada a:
Cirurgia de próstata (prostatectomia) → perda de esforço no pós-operatório.
Hiperplasia prostática → urgência ou transbordamento.
Idade avançada → aumento do risco de sintomas urinários.
👶 Saúde da Criança
O tipo mais comum é a enurese noturna.
Pode estar ligada à maturação tardia do sistema nervoso, à genética ou à produção aumentada de urina à noite.
Quando persiste após os 7 anos ou se associa a perdas diurnas, deve ser investigada.
Tratamento e Prevenção
O tratamento é sempre individualizado.
Fisioterapia pélvica → exercícios, técnicas como o The Knack, biofeedback.
Mudanças de hábitos → reduzir cafeína, regular o intestino, treinar a bexiga.
Terapias médicas e cirúrgicas → em casos específicos.
Perguntas Frequentes (FAQ)
Quanto tempo leva para melhorar?
De 6 a 12 semanas de prática regular de exercícios, mas varia de pessoa para pessoa.
Posso tratar sem cirurgia?
Sim. A fisioterapia pélvica é a primeira linha de tratamento em muitos casos.
Crianças também podem ter IU?
Sim. A enurese noturna é comum, mas deve ser acompanhada quando persiste após os 7 anos.
Homens também podem se beneficiar dos exercícios?
Com certeza. Especialmente após cirurgia de próstata, o treino do assoalho pélvico acelera a recuperação.
Quando procurar ajuda
Se a perda de urina é frequente ou afeta sua rotina.
Se há dor, sangue na urina ou infecções recorrentes.
Se a criança mantém escapes frequentes após os 7 anos.
Após cirurgias ginecológicas ou urológicas.
Erros comuns
Achar que “é normal” perder urina com a idade.
Tentar “segurar o xixi” como forma de treino (pode prejudicar a bexiga).
Prender a respiração durante os exercícios.
Interromper o tratamento antes do tempo necessário.
Leituras relacionadas
Referências
Abrams P, Cardozo L, Wagg A, Wein A. Incontinence. 6th ed. Bristol: ICI-ICS; 2017.
Haylen BT, et al. An International Urogynecological Association (IUGA)/International Continence Society (ICS) Joint Report on the Terminology for Female Pelvic Floor Dysfunction. Int Urogynecol J. 2010;21(1):5–26. doi:10.1007/s00192-009-0976-9
Dumoulin C, Cacciari LP, Hay‐Smith EJC. Pelvic floor muscle training versus no treatment for urinary incontinence in women. Cochrane Database Syst Rev. 2018;10:CD005654.
Anderson CA, Omar MI, Campbell SE, et al. Conservative management for postprostatectomy urinary incontinence. Cochrane Database Syst Rev. 2015;1:CD001843.
Austin PF, Bauer SB, Bower W, et al. Standardization of Terminology of Lower Urinary Tract Function in Children and Adolescents: ICCS. Neurourol Urodyn. 2016;35(4):471–481.
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